Repórter Brasil e a Agência Pública confirmam informação; Saae diz que houve erro na interpretação dos dados

Cidades

Foi divulgado um mapa sobre a presença de agrotóxicos na água produzido com os dados de controle do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Siságua), ligado ao Ministério da Saúde. O mapa é resultado de um esforço jornalístico em conjunto das agências de jornalismo brasileiras Repórter Brasil e Agência Pública em parceria com a organização suíça Public Eye. A ferramenta permite que qualquer brasileiro possa consultar se agrotóxicos foram detectados de 2014 a 2017 na água que sai da torneira das cidades.
Com dados do Ministério da Saúde, mapa revelou contaminação da água em todo o país. Dos 27 agrotóxicos encontrados na água em Indaiatuba, 11 são altamente tóxicos e provocam doenças crônicas como câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos. Entre os 27 detectados nas análises, 11 estavam acima do limite permitido pela legislação da União Europeia e nenhuma acima dos limites brasileiros, que são menos rigorosos.
Na ocasião da divulgação da notícia no início do mês, a reportagem do Jornal Votura Indaiatuba News enviou questionamento para a Secretaria de Relações Institucionais e Comunicação da Prefeitura de Indaiatuba, porém não obteve retorno.
Em documento enviado na semana passada pelo Saae (Serviço Autônomo de Água e Esgotos) para nossa reportagem, a autarquia afirma que “o estudo da ONG Repórter Brasil e Agência Pública que aponta uma suposta contaminação da água das torneiras das principais capitais e outras cidades brasileiras com agrotóxicos, está com erro de interpretação dos dados recolhidos no Siságua (Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano)”.
“O SAAE vem esclarecer que a água tratada distribuída pela autarquia à população de Indaiatuba não possui agrotóxico e a informação que vem sendo veiculada está equivocada”, informou.
Os dados do Ministério da Saúde demonstraram segunda a reportagem, uma realidade inquietante: milhares de cidades encontraram vestígios de agrotóxicos na água em medições realizadas neste período. Embora a maioria dos testes revelasse concentração dentro dos limites permitidos pela lei brasileira, em diversos casos esses níveis estiveram acima do que é considerado seguro no Brasil. Comparando com os padrões europeus, os dados revelam que grande parte da água dos municípios analisados seria qualificada como imprópria na Europa, segundo o estudo.

Metodologia

Para acessar os dados, primeiro a reportagem da Repórter Brasil entrou com um pedido pela Lei de Acesso à Informação. O Ministério da Saúde enviou a base do Siságua em abril de 2018 e, meses depois, passou a divulgar os dados atualizados no site Dados Abertos, do governo Federal.
A base de dados completa, recebida em abril de 2018, pode ser baixada. São esses os dados que foram utilizados no mapa. É importante salientar que, como o banco do Siságua é atualizado de modo constante, as informações que foram acrescentadas depois de abril de 2018 não estão no mapa.
Vale ressaltar que o Siságua reúne um complexo banco de dados, pois recebe resultados de testes feitos em todo o país. As medições são feitas pelas mesmas empresas que fornecem a água que são as responsáveis por testar a presença de 27 agrotóxicos na rede que abastece as cidades. As informações são enviadas ao Siságua pelas próprias empresas, ou por secretarias estaduais e municipais.
A lei brasileira determina que os fornecedores de água no Brasil devem realizar os testes a cada seis meses. Muitas não fazem os testes, ou não enviam os dados, descumprindo a lei.

Questionamentos

Sem entrar nos detalhes questionados, o órgão federal enviou uma nota sobre o sistema: “O Ministério da Saúde informa que o Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano funciona de forma regular, estando devidamente preparado para receber os resultados das análises de agrotóxicos realizados pelos próprios municípios. Cabe ressaltar que a inserção dos dados no Siságua é de responsabilidade dos gestores locais, por meio do profissional técnico de vigilância da qualidade da água no município ou pelo profissional responsável pela prestação de serviço, caso tenha acesso ao Sistema”.
Nos últimos dias, associações e sindicatos patronais ligados ao agronegócio passaram a atacar o trabalho de jornalismo de dados com a publicação de notas, matérias em sites e até memes acusando a publicação de Fake News. A Agência Pública e Repórter Brasil entendem que o termo está sendo usado com a intenção de atacar a credibilidade da informação publicada por duas organizações de jornalismo investigativo com uma trajetória reconhecida que, juntas, somam mais de 60 prêmios nacionais e internacionais.
Apesar de ataques, a Repórter Brasil e a Agência Pública seguem investigando os agrotóxicos, tema de amplo interesse público devido à sua importância para a saúde, o meio ambiente e a economia
A Repórter Brasil confirma que os dados utilizados para o mapa e reportagem são informações oficiais do Controle do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Siságua), do Ministério da Saúde.
Como o banco é atualizado todo semestre pelas secretarias de vigilância e empresas de abastecimento, novas informações foram acrescentadas desde que a reportagem recebeu os dados, as informações inseridas depois de abril de 2018 não constam no mapa.

Leia a íntegra do documento enviado pelo Saae

Água tratada de Indaiatuba não possui agrotóxicos. Houve erro na interpretação dos dados do Siságua

Um estudo da ONG Repórter Brasil e Agência Pública que aponta uma suposta contaminação da água das torneiras das principais capitais e outras cidades brasileiras com agrotóxicos, está com erro de interpretação dos dados recolhidos no SISÁGUA (Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano).
A partir do estudo, foram publicadas diversas reportagens em vários veículos de comunicação e redes sociais, que apelaram para um tom alarmista. O Serviço Autônomo de Água e Esgotos de Indaiatuba explicou o erro aos veículos que questionaram, porém, outros órgãos de comunicação apenas replicaram os dados, sem ao menos verificarem a veracidade das informações, gerando insegurança na população e colocando em dúvida a qualidade da água tratada distribuída em Indaiatuba.
O SAAE vem esclarecer que a água tratada distribuída pela autarquia à população de Indaiatuba NÃO possui agrotóxico e a informação que vem sendo veiculada está equivocada. A autarquia irá entrar com pedido de retratação contra todos os veículos que divulgaram a matéria.
São enviados mensalmente, desde 2008, ao SISÁGUA os resultados das análises que são solicitadas pelo órgão, seguindo a Legislação Federal (Portaria de Consolidação nº 5). A legislação determina, entre outras coisas, a frequência, a quantidade de análises e quais parâmetros devem ser realizados na água distribuída à população. Os resultados obtidos destas análises são adicionados ao banco de dados.
As análises relacionadas com agrotóxicos são feitas semestralmente, por laboratórios contratados e acreditados, que possuem ISO 17025. Esses laboratórios possuem seu Limite de Quantificação bem pequenos justamente para que haja uma margem de segurança nos resultados, em relação aos limites estabelecidos na legislação. Ou seja, o limite de quantificação mostra qual o menor valor que um laboratório consegue quantificar para aquela substância.
Por exemplo, o limite que a legislação determina para o agrotóxico Alaclor é de 20 µg/L, e a quantificação contratada do Laboratório Controle Analítico é 0,00025 µg /L. Ou seja, estar no banco de dados que a água tratada de Indaiatuba o resultado da análise em menos que (<) 0,00025, não significa que ele está presente e sim que o laboratório só consegue ver quanto tem desse agrotóxico, a partir desse valor mínimo. O que leva a crer que houve erro na interpretação dos dados por esses veículos de imprensa. A água de Indaiatuba sempre apresentou resultados menores que o quantificado, como mostra a tabela do SISÁGUA, onde o Alaclor aparece, em 2017, quantificado como menor que (<) 0,00025. E assim acontece com os todos os 27 agrotóxicos divulgados nas matérias. Por esse motivo, podemos afirmar que a água tratada em Indaiatuba não apresenta agrotóxico, que todos os valores estão abaixo da capacidade de identificação dos laboratórios e muito abaixo dos limites da legislação. Foto: Indaiatuba News

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